sábado, 4 de novembro de 2017

Detalhes em voz alta: uma técnica para não se perder no campo

Perder-se no campo pode ser uma experiência muito perturbadora e, quando prolongada, é fácil quem se encontra nessa situação confundir-se e tomar más decisões. Laurence Gonzales fala sobre isso no livro "Survival. Quem sobrevive, quem morre e por quê".

Actividade de campo (fonte: ambitare.com)

Quando alguém está desorientado, o seu cérebro começa a enviar sinais de emergência e as emoções ficam descontroladas, e isto acontece a todos mesmo aos "especialistas" em actividades da campo. Até meados do século passado, existia entre a comunidade cientifica a crença de que certos grupos humanos tinham algum tipo de sentido inato de orientação. A observação de que certos povos, um pouco por todo o mundo se conseguiam orientar na ausência de indicações claras sugeriu que existiria um sexto sentido, relacionado com o magnetismo terrestre.

Os aborígenes australianos e os naturais de Puluwat, no Pacífico Sul, eram exemplos de povos que pareciam inexplicavelmente capazes de se orientar. Mas quando essas comunidades foram estudadas com mais detalhe percebeu-se que que existiam ensinamentos que lhes permitiam desde pequenos a observar sinais muito subtis e usá-los, como quem usa placas de sinalização para seguir uma rota rodoviária. No entanto, essas pessoas também se perdiam. E a pesquisa descobriu que nessas alturas eles voltavam a encontrar o caminho certo porque conseguiam manter um mapa mental actualizado do seu território.

O autor do livro chegou mesmo a experimentar essa técnica numa saída de campo em grupo com Mark Morey, fundador do "Institute for Natural Learning":

Atravessando uma floresta sem caminhos, Mark Morey parava a cada 25 ou 30 metros para chamar a atenção para um ou outro pormenor e examinar as "descobertas". A determinado ponto ele pediu aos membros do grupo para apontarem o local de inicio da actividade, o que não foram capazes de fazer com clareza. Descobrir que não é capaz de encontrar o caminho de volta resulta sempre numa lição de modéstia e de humildade. O grupo estava simplesmente seguindo Mark, o que nunca é uma boa ideia. Eles não tinham seguido o seu próprio caminho e, como resultado, estavam perdidos. O guia então chamou a atenção para o último lugar onde tinham parado e que ainda era facilmente identificado.
- Lembram-se que existia lá uma trepadeira? Perguntou ele.
O grupo naquele local tinha tirado um bocado de uma trepadeira que era boa para improvisar cordas. Então o grupo voltou àquele ponto especifico e em seguida Mark apontou para outro local onde tinha exemplificado a foram de deslocação dos "índios"  Norte-americanos. O grupo voltou a esse lugar. A partir daí regressou ao sitio onde encontraram uma pegada de veado, e assim consecutivamente de paragem em paragem reconstituiriam o caminho de regresso. 

Morey, instruiu o grupo para que recordando os detalhes e as conversas, reencontrar o caminho para um ponto seguro, numa floresta homogénea, sem caminhos e sem sinais óbvios que lhes permitisse orientarem-se. Ensinou-lhes uma forma de com pouco esforço construírem um mapa mental fiável da área onde se encontravam.

É como a letra de uma canção, se conhecerem a letra toda nunca se perdem, ou se se perderem facilmente reencontrarão o caminho certo, esta técnica é utilizada ancestralmente pelos aborígenes australianos.
"Os mitos aborígenes da criação falam de seres lendários que vaguearam pelo continente [...] cantando alto o nome de tudo que cruzou o seu caminho : animais, plantas, pedras, poços de água ... dessa forma eles cantavam a existência do mundo ... Uma música ... era na época um mapa e algo que servia para encontrar direcções. Quem conhecer a música, pode encontrar sempre o caminho ».

Portanto lembre-se, quando for realizar uma actividade de campo, esteja atento ao pormenores, vá construindo o seu mapa mental, e se precisar de encontrar o caminho de volta recorde  todos os pormenores e facilmente sairá de uma situação que para além de desconfortável pode ser perigosa. Mas faça-o em voz alta, está comprovado cientificamente que quando se fala em voz alta (mesmo quando se está sozinho) as ideias ficam mais claras.

E tenha em atenção que a um mapa mental nunca falta o sinal nem as pilhas.

Por: Luís Baltazar


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