terça-feira, 1 de abril de 2025

Segurança em Percursos Pedestres: Como Evitar Acidentes na Natureza

As atividades ao ar livre, especialmente os percursos pedestres, têm conquistado um número crescente de entusiastas em Portugal, proporcionando benefícios significativos para a saúde física e mental, além de promoverem um contacto íntimo com a natureza. Contudo, é crucial reconhecer que tais atividades não estão isentas de riscos. Compreender as causas dos acidentes, identificar os incidentes mais comuns e adotar medidas preventivas são passos fundamentais para assegurar uma experiência segura e agradável.

Levada
Caminhante numa levada na Madeira (fonte: bookatrekking.com)

Conceitos Fundamentais: Perigo, Risco e Vulnerabilidade

Antes de analisar as causas dos acidentes, é essencial compreender três conceitos fundamentais: perigo, risco e vulnerabilidade.

  • Perigo refere-se a qualquer elemento ou situação que tenha o potencial de causar danos. No contexto dos percursos pedestres, isto pode incluir terrenos acidentados, intempéries, animais selvagens ou falhas na sinalização.
  • Risco é a probabilidade de um perigo causar um acidente, dependendo de fatores como a experiência do praticante, a utilização de equipamento adequado e as condições ambientais.
  • Vulnerabilidade diz respeito à suscetibilidade de um indivíduo ou grupo ser afetado negativamente por um risco. Um praticante pouco experiente, sem conhecimento das condições do percurso e sem equipamento adequado, é mais vulnerável do que alguém preparado e experiente.

Compreender a interação entre estes três fatores permite adotar estratégias eficazes para minimizar a ocorrência de acidentes e melhorar a segurança em percursos pedestres.

Teorias sobre a Causa dos Acidentes

A prevenção eficaz de acidentes requer uma compreensão profunda das suas causas. Diversas teorias foram desenvolvidas ao longo do tempo para explicar a ocorrência de acidentes. Entre as mais reconhecidas está a Teoria do Dominó, proposta por Heinrich em 1931. Segundo esta teoria, os acidentes resultam de uma sequência de cinco fatores interligados:

  1. Influências ambientais e sociais: Fatores culturais, educacionais ou ambientais que influenciam os comportamentos dos praticantes.
  2. Falta de conhecimento ou erro humano: Deficiências individuais, como falta de atenção ou desconhecimento das condições do percurso.
  3. Atos inseguros ou condições perigosas: Comportamentos imprudentes ou ambientes que apresentam riscos significativos.
  4. Acidente: O evento resultante da combinação dos fatores anteriores.
  5. Lesão ou dano: As consequências físicas ou materiais do acidente.

Outra abordagem relevante é a Teoria da Transferência de Energia, que postula que as lesões ocorrem devido a uma transferência descontrolada de energia entre uma fonte e um receptor. Esta teoria enfatiza a importância de identificar fontes de energia potencialmente perigosas e implementar barreiras ou medidas de controle para minimizar o risco de lesões.

Sinalização de percursos pedestres em Arões, Braga (fonte: itineris.pt)

Estrutura dos Acidentes em Percursos Pedestres

A compreensão da estrutura dos acidentes é essencial para a implementação de medidas preventivas eficazes. De acordo com a literatura especializada, as causas dos acidentes podem ser categorizadas em dois grupos principais:

  • Causas Imediatas:
    • Atos inseguros: Comportamentos inadequados dos indivíduos, como desatenção, negligência ou falta de conhecimento.
    • Condições inseguras: Ambientes que apresentam riscos, como trilhos mal sinalizados ou superfícies escorregadias.
  • Causas Contributivas:
    • Fatores organizacionais: Falta de sinalização adequada, deficiências na manutenção dos trilhos ou insuficiência de informação aos praticantes.
    • Fatores ambientais: Mudanças climáticas súbitas, desmoronamentos de terrenos ou presença de animais selvagens.
    • Condição física e mental do praticante: Estado de saúde, fadiga ou stress que podem comprometer a capacidade de realizar a atividade de forma segura.

A interação desses fatores pode culminar em diferentes tipos de acidentes, resultando em lesões ou danos materiais.

Acidentes ou incidentes mais comuns

Entre os acidentes mais frequentes em percursos pedestres destacam-se:

  • Entorses e distensões musculares: Resultantes de movimentos bruscos, terrenos irregulares ou calçado inadequado.​
  • Quedas: Devidas a escorregadelas em superfícies molhadas, pedras soltas ou raízes expostas.​
  • Desorientação e perda do caminho: Especialmente em trilhos mal sinalizados ou quando não se possui mapas ou dispositivos de orientação.​
  • Hipotermia ou insolação: Causadas por exposição prolongada a temperaturas baixas sem proteção adequada ou a calor intenso sem hidratação suficiente.​
  • Picadas de insetos ou mordeduras de animais: Ao atravessar áreas com fauna potencialmente perigosa.​

Cuidados a ter e como evitar acidentes

Para minimizar os riscos associados aos percursos pedestres, é aconselhável adotar as seguintes medidas:

  • Estudo prévio do itinerário: Antes de iniciar a caminhada, informe-se sobre o percurso, consulte mapas, guias e previsões meteorológicas. Esta preparação ajuda a evitar surpresas e a planear adequadamente a atividade. ​
  • Avaliação das capacidades físicas: Escolha percursos compatíveis com o seu nível de preparação física. Não sobrestime as suas forças e lembre-se de reservar energia para o regresso. ​
  • Equipamento adequado: Utilize vestuário e calçado apropriados ao tipo de terreno e condições climáticas. Botas de caminhada com bom amortecimento e sola antiderrapante são recomendadas. Leve também uma mochila com água, alimentos energéticos, agasalhos, protetor solar e um estojo de primeiros socorros. ​
  • Acompanhamento: Evite caminhar sozinho. Ter companhia aumenta a segurança, especialmente em caso de emergência. ​
  • Informar terceiros: Comunique a alguém o percurso que irá realizar e a hora prevista de regresso. Em caso de atraso ou incidente, essa pessoa poderá alertar os serviços de emergência. ​
  • Atenção às condições meteorológicas: Verifique as previsões antes de partir e esteja preparado para mudanças súbitas. Se as condições se deteriorarem durante a caminhada, considere regressar pelo mesmo caminho. ​
  • Manter-se no trilho: Siga os percursos sinalizados e evite atalhos. Isto reduz o risco de se perder ou de encontrar terrenos perigosos. ​
  • Evitar distrações: Durante a caminhada, limite o uso de dispositivos eletrónicos e esteja atento ao ambiente circundante. A distração pode impedir a percepção de sinais de perigo, como a aproximação de veículos ou animais. ​
  • Utilização de bastões de caminhada: Estes auxiliam na estabilidade, especialmente em terrenos irregulares ou com desníveis acentuados, e ajudam a reduzir a carga nas articulações. ​
  • Respeito pela natureza e sinalização: Não danifique a flora ou fauna local, não abandone lixo e respeite a sinalização existente. Estas atitudes contribuem para a preservação dos trilhos e para a segurança de todos os utilizadores. ​
Equipamento para caminhadas (fonte: outdooractive.pt)

Em caso de acidente

Se ocorrer um acidente durante a caminhada:

  • Proteger: Assegure-se de que a área é segura para prestar assistência, evitando agravar a situação.​
  • Alertar: Contacte os serviços de emergência através do número 112, fornecendo informações precisas sobre a localização e estado da vítima.​
  • Socorrer: Preste os primeiros socorros dentro das suas capacidades, mantendo a calma e aguardando a chegada de ajuda especializada.

A prática de percursos pedestres é uma atividade enriquecedora que, quando realizada com os devidos cuidados, proporciona inúmeros benefícios para a saúde física e mental, além de permitir um contacto privilegiado com a natureza. No entanto, é fundamental que os praticantes estejam cientes dos riscos envolvidos e adotem medidas preventivas para evitar acidentes.
Desde o planeamento adequado até à utilização do equipamento correto e ao respeito pelas regras de segurança, cada decisão pode fazer a diferença entre uma caminhada agradável e uma experiência perigosa. Além disso, a responsabilidade individual e coletiva na preservação dos trilhos e no respeito pelo ambiente garantem que estas atividades possam ser desfrutadas por todos de forma segura e sustentável.
Ao seguir as recomendações apresentadas, os praticantes estarão mais preparados para enfrentar os desafios dos percursos pedestres, minimizando os riscos e maximizando o prazer da aventura. Afinal, explorar a natureza deve ser uma experiência segura e inesquecível, onde a prudência e a consciência caminham lado a lado.

Bibliografia recomendada

  • Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). "O que deve saber sobre atividades de ar livre." Este documento fornece orientações essenciais para a prática segura de atividades ao ar livre, destacando a importância de seguros adequados e medidas preventivas.
  • Instituto de Florestas e Conservação da Natureza (IFCN). "Precauções e Conselhos aos Pedestrianistas." Apresenta normas de conduta para praticantes de percursos pedestres, enfatizando a importância de permanecer nos trilhos sinalizados e respeitar o ambiente natural.~
  • Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA). "Acidentes Domésticos e de Lazer: uma ocorrência em Portugal com...". Analisa a ocorrência de acidentes em diversos contextos, incluindo atividades ao ar livre, fornecendo dados estatísticos relevantes para a compreensão dos riscos associados.
  • Turismo de Portugal. "Código de Conduta para Utilizadores de Rotas Pedestres e Cicláveis." Este código estabelece diretrizes para a utilização responsável e segura de rotas pedestres e cicláveis, promovendo boas práticas entre os utilizadores.
  • Centro de Turismo do Oeste. "Guia de Passeios Pedestres." Oferece orientações sobre a realização de passeios pedestres, incluindo a avaliação de riscos e medidas de prevenção de acidentes, visando a segurança dos participantes.

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