Robert Machim e Ana de Arfert |
Machim combinou com alguns dos seus amigos em resgatar a noiva antes do casamento e levá-la de barco para França, então em guerra contra os ingleses na Guerra dos Cem Anos. A data da fuga foi combinada com a jovem para as vésperas do dia do casamento.
Fugindo para longe da costa inglesa, os amantes foram quase de imediato assolados por uma tempestade que os fez perder o rumo pretendido. Sofrendo agruras devido à tempestade, e não tendo a bordo um piloto experiente que os voltasse a colocar no rumo, andaram à deriva durante dias até que viram ao longe uma "grande mancha verde". Apesar do medo perante o desconhecido, o desespero levou-os a aproximarem-se. Viram-se então em frente à ilha que mais tarde se designaria por ilha da Madeira.
Por a dama encontrar-se doente após tanto tempo no mar, desembarcaram na enseada que é hoje a baía de Machico. O seu desespero por terra firme era tal que saíram sem tomarem as devidas providências quanto à ancoragem do barco. Após explorarem aquele pequeno bocado da ilha e de terem saciado a sua sede, aperceberam-se que nova tempestade se avizinhava. Procuraram refúgio por entre as raízes de uma frondosa árvore que lá se encontrava - o diâmetro da circunferência do tronco desta era tal que na sua base havia uma concavidade que conseguia albergar muita gente sem que houvesse falta de espaço.
Após amainar a tempestade aperceberam-se que o mar tinha-lhes levado o barco. A dama desesperada, cujo estado de saúde estava já debilitado, viria a falecer passados poucos dias. Machim ergueu uma enorme cruz em madeira junto à sepultura da sua amada (perto da frondosa árvore onde haviam encontrado abrigo), e foi afectado por uma melancolia tal que, em menos de uma semana juntou-se à sua amada na morte.
Todos os restantes membros da expedição que lá ficaram, tentando sobreviver. Alguns sucumbiram, outros resistiram até à passagem de um barco de mouros que os resgatou - não que sem antes tivessem gravado na cruz uma breve história dos dois amados e os levou para o Norte de África, para serem vendidos como escravos. Um destes teria sido resgatado por um dos pagamentos pela libertação de cativos que os cristãos faziam com os negociantes africanos. Sobreviveu assim alguém que contou a saga de Machim, tendo chegado rumores dessa descoberta aos portugueses.
Capela de Machico |
Fonte: Silva, Fernando Augusto; Elucidário Madeirense; 1921.
Nenhum comentário:
Postar um comentário