domingo, 4 de abril de 2021

Caminhadas com crianças

O bem-estar das crianças e a proteção da natureza estão intimamente ligados. E embora as pesquisas digam que as atividades de ar livre são essenciais para o seu desenvolvimento saudável, as crianças de hoje têm cada vez  menos ligação à natureza.


Os pais que são praticantes de atividades de campo sempre se questionam: como fazer caminhadas com crianças? A pergunta tem um motivo simples: a parentalidade é muito mais do que gerar um filho, é também transmitir princípios e valores para as gerações seguintes.
Antes das informações básicas sobre como introduzir os filhos nas caminhadas, é necessário ter em mente que o desenvolvimento de uma criança não acontece de forma linear. Durante a sua evolução individual a criança experimenta avanços e retrocessos, vivendo o seu desenvolvimento de modo particular, cada criança é uma criança diferente de todas as outras. Portanto, não siga as informações como uma “receita”, a construção da personalidade de uma criança deve respeitar a sua idade, sabendo-se no entanto que todas têm uma forma particular de se manifestarem.
A informação sobre distâncias e pesos, de seguida apresentada, foi obtida a partir de pesquisas com preparadores físicos, pediatras e outros técnicos, todos os números são médias, que variam de criança para criança.

Crianças dos 0 aos 3 anos


Há um consenso entre os pediatras de que não há uma idade certa para a criança começar a andar. O que é amplamente aceite é que existe um período para que isso aconteça, de acordo com a literatura médica existente é entre 10 e 18 meses. Entretanto, todos os especialistas concordam em que tanto antecipar etapas, como não estimular a criança, podem futuramente gerar problemas.


Portanto, nas caminhadas as crianças que ainda não andam devem ser transportadas em dispositivos próprios, que sejam adequados e seguros, normalmente "mochilas" que podem ser encontradas nos espaços comerciais que vendem equipamento para atividades de ar livre, isso permitirá tanto aos pais como às crianças deslocarem-se em segurança e com conforto em contacto direto com a natureza.
As crianças ente os 7 e os 11 meses costumam gatinhar, e assim é importante levar um cobertor ou uma lona para que nas paragens possam estar livres e mais à vontade minimizado o contato direto com o solo.
Por volta dos 18 meses, as crianças encontram-se na "fase oral", em que tende a usar a boca para descobrir o mundo e para experimentar o que a cerca, durante essa fase a atenção dos adultos deve ser constante, para evitar potenciais acidentes.
Para as crianças que já conseguem caminhar, o ideal é levá-las a andar distâncias entre 400 metros e 3 km, a distância máxima proposta e recomendada para as que já se encontram próximas dos 3 anos, respeitando sempre o limite físico da criança.
Nessa idade, o ideal é que as crianças não carreguem qualquer peso, nem mesmo as mochilas adequadas a essas idades, para que a criança possa usufruir plenamente o contato com a natureza. Os pais, por outro lado, devem levar mochilas para que as crianças os vejam como exemplo e se sintam motivadas, no futuro, a fazer um bom uso desse precioso equipamento.

Crianças dos 4 aos 7 anos


Quando as crianças estão na faixa etária dos 4 aos 7 anos possuem toda a energia do mundo, parece que as "pilhas" nunca mais acabam. É essa a fase ideal para conhecer as atividades de campo. É também nessa idade que as crianças possuem uma curiosidade imensa, querendo parar a cada minuto para entender o que as rodeia, essa curiosidade deve ser estimulada pelos adultos, aproveitando também para transmitir conceitos como a perseverança, resiliência e concentração.


Nesta faixa etária as crianças já conseguem fazer sozinhas um grande número de atividades da vida diária, como lavar os dentes, saltar ao "pé-coxinho", subir e descer, etc. e as atividades de campo podem ser bastante prazerosas tanto para as crianças como para os adultos.
As caminhadas nesta idade não se devem limitar a sair do ponto "A" para o ponto "B", deve existir um itinerário que preveja paragens para ensinamento, reflexões, contemplações, pequenas conversas sobre o dia a dia da criança, etc.
Nesta idade o ideal é caminhar entre 3 e 7 km, permitindo "queimar" de uma forma saudável a energia extra, sem risco de lesões. É por esta altura que deve ser considerada a introdução do uso de mochilas, onde pode levar por exemplo um cantil com água e um agasalho, pois trata-se de um equipamento essencial para as atividades de campo, os especialistas estimam que uma criança poderá sem risco transportar uma mochila com 10 a 15% do seu peso corporal, no entanto nesta fase de introdução o peso da mochila não deverá ultrapassar os 10% do peso corporal da criança.

Crianças dos 8 aos 13 anos


As crianças com mais de 8 anos já podem fazer algumas caminhadas mais exigentes, como travessias, trilhos mais difíceis, etc. o que pode resultar numa atividade bastante gratificante tanto para todos os intervenientes.


Embora nesta faixa etária as crianças comecem a ter uma resistência física que lhe permite acompanhar os adultos na maior parte das atividades, isso não significa que "forçar" uma criança de 9 ou 10 anos a caminhar 10 km em cada saída seja uma boa ideia, pois "forçar" crianças a realizar atividades é fazer com que elas acabem por odiar essas atividades, o esforço proposto deve estar de acordo, não só com a capacidade física da criança, mas também com a sua disponibilidade mental, o mais importante é que ela sinta prazer e se divirta.
Com esta idade a capacidade de carregar peso também é incrementada, mas de qualquer modo, os adultos devem manter-se atentos por forma a que o peso das mochilas não ultrapasse os 15% do peso corporal da criança.

Independentemente da idade, permitir o contacto direto das crianças com a natureza é sempre uma excelente ideia, que se traduzirá sempre no seu crescimento e desenvolvimento equilibrado, levando a que no futuro sejam mais saudáveis e conscientes do mundo que as rodeia.


quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

O sismo de 28 de Fevereiro de 1969

Pelas 3 horas e 41 minutos do dia 28 de Fevereiro de 1969 a terra tremeu em Portugal Continental, um sismo de magnitude 7,3 (escala de Ritcher) causou destruição e lançou o pânico entre a população das áreas mais afectadas.

Primeira página do Diário de Lisboa (28-02-1969)

Considerado como o maior sismo, após o de 1755, a afectar Portugal Continental, durou cerca de 1 minuto e teve o seu epicentro a sudoeste do Cabo de São Vicente, numa área de elevada actividade sísmica.

A maior parte das pessoas saiu à rua e procurou as áreas mais abertas da cidade e longe do rio (por lembrança do tsunami de 1755), a maior concentração de pessoas registou-se na área do Campo dos Mártires da Pátria, onde muita gente se manteve até ao raiar do dia.

Na aérea metropolitana de Lisboa foi onde foram verificados os maiores estragos, principalmente nas fachadas e varandas dos edifícios, a queda de estruturas provocou grandes estragos nas viaturas estacionadas junto das mesmas.

Viaturas danificadas em Lisboa 

Os estragos provocaram muitos milhares de contos de prejuízos a entidades privadas, mas foram muitos os edifícios públicos e históricos que sofreram danos, exemplo disso foi a queda da cabeça da imagem da N. S. do Loreto no Chiado e os estragos verificados no Convento de Cristo em Tomar ou no Mosteiro da Batalha.

Imagem da N. S. do Loreto em Lisboa

Fonte de Louseiros, uma pequena aldeia do concelho de Silves (Algarve) foi fortemente atingida, tendo ficado praticamente destruída em consequência do abalo, apesar de todas as casas terem ruído e de todos os habitantes terem ficado desalojados, não se verificaram danos pessoais.

Aldeia de Fonte Louseiros

O fornecimento de energia eléctrica foi interrompido em várias localidades do pais, sendo que na Cidade de Lisboa se prolongou aproximadamente por 30 minutos, também os telefones deixaram de funcionar, o que agravou a sensação de insegurança da população.

O terramoto foi sentido igualmente em Espanha e no Norte de África, com intensidade variável e onde foram também registados estragos.

Nos hospitais de Lisboa deram entrada cerca de uma centena de sinistrados, a maior parte vitimas de comoção e de pequenos traumatismos, oficialmente registaram-se 13 vitimas mortais, destas "apenas" duas em consequência directa de ferimentos sofridos, as outras devido à comoção vivida, de entre os "anónimos" falecidos destaca-se um antigo Cônsul Francês em Lisboa, vitimado por síncope cardíaca.

Após o sismo principal, foram sentidas durante vários dias algumas réplicas, a mais forte fez-se sentir na mesma noite pelas 5:28 h  e ultrapassou a magnitude de 5 (escala de Ritcher), o que levou a que muita gente passasse o resto da noite na rua com medo das consequências da crise sísmica.


Em Portugal continental os grandes sismos, embora pouco frequentes, têm afectado especialmente as regiões central e meridional do território. Alguns sismos importantes, embora ainda menos frequentes, têm ocorrido igualmente na parte norte do País. Nos Açores ocorrem regularmente sismos danificantes que têm afectado as ilhas dos grupos central e oriental. A maior parte dos sismos atrás referidos e que são sentidos pela população são caracterizados por abalos de curta duração (poucos segundos a poucas dezenas de segundos).

Registo da actividade sísmica actual (fonte: IPMA) 

Fontes: 
  • Arquivo RTP
  • Diário de Lisboa
  • IPMA

terça-feira, 30 de outubro de 2018

Forte Velho do Outão

O Forte Velho do Outão, também conhecido por Forte do Zambujal, Forte do Facho ou Atalaião da Arrábida, foi construído no Séc. XVII (provavelmente entre 1649 e 1655) a mando do Rei D, João IV para colocação de artilharia que pudesse auxiliar na defesa da barra do Sado e do Porto de Setúbal.

Forte Velho do Outão (Fonte: Google Earth)
O Forte surge na forma de forte construído sobre plataforma de baluarte, o seu conjunto apresenta um circuito de muros altos, verticais que rematam em balcão corrido, vazado onde poderiam ter existido mata-cães (abertura no chão entre as ameias ou os balcões das fortificações medievais, através da qual se podia observar os atacantes e agredi-los com pedras, flechas, água fervente ou outros objectos) é ameado com abertas largas, com esplanadas em níveis diferenciados.

Mata-cães de uma fortaleza medieval (fonte: Wikipédia)
Em 1911 é que a artilharia de costa se individualizou como um dos ramos da Arma de Artilharia do Exército Português e a seguir à Segunda Guerra Mundial, uma comissão luso-britânica, coordenada pelo general britânico Barron, desenvolve um plano de defesa costeira da região de Lisboa. O chamado "Plano Barron" prevê um Comando de Defesa Costeira responsável pela coordenação de dois sectores de defesa costeira: norte - defendendo o rio Tejo e o Porto de Lisboa - e sul - defendendo o rio Sado e o Porto de Setúbal.
Entre 1948 e 1958, as baterias previstas no Plano Barron tornaram-se operacionais, a maioria das quais foi instalada em fortificações compostas por casamatas e paióis subterrâneos e armadas com peças navais de grande calibre instaladas em torres couraçadas.
Atendendo à sua posição privilegiada sobre o rio Sado, o Forte Velho do Outão foi escolhido para a instalação de uma dessas infraestruturas de defesa, a 7ª Bateria do Regimento de Artilharia de Costa (RAC). A construção desta unidade militar iniciou-se em 1944 e ficou operacional em 1954. Era composta por 3 peças de artilharia Vickers 152mm, de fabrico inglês, de médio alcance (10 – 20 km), pelo antigo forte e os aquartelamentos.

Porta de Armas (antes do encerramento) da 7ª Bateria do RAC (fonte: RAC - Blog)
Torres com peças de 152,4 mm (antes do encerramento) da 7ª Bateria do RAC (fonte: RAC - Blog)

Devido às evoluções tecnológicas (aviões bombardeiros de grande capacidade, misseis, etc.) a existência deste tipo de infraestruturas tornou-se obsoleta e em consequência disso, em 1998 o RAC foi desactivado e finalmente, em 2001 extinto. De referir que estas estruturas nunca foram utilizadas em contexto de conflito armado, tendo apenas realizado fogo real em contexto de exercício militar.

7ª Bateria do RAC em exercício de fogo real (fonte: Últimos disparos do "Muro Atlãntico" Português)
As unidades que faziam parte deste regimento foram desactivadas e abandonadas à sua sorte, tal foi o caso da 7ª Bateria, ficando o forte e todo o material remanescente, nomeadamente as peças de artilharia e estruturas conexas à mercê da pilhagem, vandalismo e destruição.

Um dos paiois suibterrâneos da 7ª Bateria

Este local é merecedor de uma visita, não só pela magnifica vista, mas também por revelar (ainda) uma página do nosso passado recente.


Localização do Forte


Referências:

Cinco desafios ambientais para o Natal

Os conhecimentos e a tecnologia evoluem, assim como as políticas de protecção ambiental, como tal e  partindo da politica dos 3R (Reduzir, Reutilizar e Reciclar), fala-se actualmente nos 5R (Repensar, Reduzir, Reaproveitar, Reciclar e Recusar), uma politica mais abrangente e complexa tendo em atenção que é necessário um consumo mais consciente e mais inteligente.
Assim como o Natal é por excelência a época de maior consumo, é importante termos em mente que os recursos naturais são limitados e que temos de adoptar uma atitude mais consciente, ficam aqui 5 desafios (um por cada R) para colocar em prática nesta quadra natalícia.


Todas as acções abaixo descriminadas são de igual importância, mas é importante que sejam executadas pela ordem apresentada.

1. Repense a sua lista de compras



Na época de Natal é normal agir-se por impulso, o "apelo" consumista é enorme e está sistematicamente pensado para que as pessoas consumam mais e mais, está na "mão" de cada um cortar com esta "lógica" e consumir apenas aquilo que é necessário.
Esta é também a altura da extensa lista de desejos expressa na "carta ao Pai Natal" em que invariavelmente os mais pequenos pedem este mundo e mais aquele, a educação é aquilo que de mais valioso podemos (e devemos) oferecer, é importante que desde muito novas as crianças sejam educadas para a sustentabilidade, a consumirem apenas o que necessitam e os produtos mais "amigos" do ambiente. Normalmente dá-se mais valor aquilo que é genuíno e sincero. Mais quantidade não é, nem nunca poderá ser sinónimo de mais amor ou mais e melhor amizade.

2. Reduza a produção de resíduos


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No período natalício  verifica-se igualmente um aumento considerável da quantidade de resíduos urbanos produzidos e que é necessário recolher e tratar.
E se produzíssemos menos resíduos? Comprando por exemplo coisas com menos embalagens ou evitássemos desperdiçar produtos alimentares. De um modo geral as pessoas (as que podem)  têm tendência para na quadra de Natal terem uma mesa "rica", muitas vezes com quantidade e variedade "insana" de alimentos que os convivas nunca teriam capacidade de consumir na integra, acabando as "sobras" por irem parar ao lixo.
Tente apenas comprar e preparar o que vai ser consumido, assim vai reduzir a produção de resíduos e poupar dinheiro que pode aplicar em algo de maior utilidade.

3. Reaproveite tudo o que puder


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Será que as embalagens, os papeis de embrulho e os lacinhos só podem servir uma única vez? Claro que não, podem ser abertos com cuidado (para não se danificarem), guardados e serem utilizados para embrulhar presentes noutras épocas festivas, os mais criativos podem mesmo reutilizá-los para fazerem objectos úteis no dia-a-dia.
E aquele bibelot que a sua tia-avó lhe ofereceu e que não condiz com a sua decoração? O que lhe vai fazer? Guardá-lo na arrecadação? Porque não lhe dar vida nova, pintando-o de outra cor por exemplo, ou oferecê-lo aquela amiga que adora objectos vintage.

E por falar em reaproveitar, porque não seguir as "velhas tradições" populares e aproveitar as "sobras" da Ceia de Natal para fazer uma das refeições de dia 25 ou 26? Deixamos aqui a receita da "Roupa Velha".

4. Separe os resíduos


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Certifique-se que todos os resíduos que produziu são encaminhados para o destino mais adequado, garanta que por exemplo tudo o que possa ser reciclado é separado devidamente e encaminhado para o ecoponto indicado.
Para evitar que os resíduos se espalhem pelas ruas, informe-se se a recolha não é interrompida na quadra festiva, evitando colocar os resíduos nos contentores nos dias em que não há recolha.
Se o contentor, ou o ecoponto, já se encontrar cheio, por favor não abandone os resíduos, mesmo que devidamente acondicionados fora dos mesmo, procure outro contentor que ainda não esteja cheio,  andar mais uma dezenas (ou mesmo uma centenas) de metros, vai saber-lhe bem (para "dar cabo" da rabanada que comeu a mais) e o ambiente agradece. Se em todo o caso os contentores das imediações já estiverem todos cheios, considere guardar os resíduos em casa (numa varanda ou quintal, por exemplo) até que a recolha esteja normalizada.
Faça uma gestão inteligente dos resíduos que produz. 

5. Aprenda a dizer não


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Recuse-se a:

  • Consumir mais que o necessário;
  • Consumir produtos com impactos ambientais significativos;
  • Desperdiçar recursos;
  • Desperdiçar energia;
  • Fazer aquilo a que a "sociedade de consumo" o impele permanentemente a fazer;
Não alinhe em "carneiradas", seja um consumidor consciente.

A equipa Ambitare.com deseja-lhe Boas Festas



domingo, 16 de setembro de 2018

Níveis de Dificuldade nos Percursos Pedestres


O nível de dificuldade dos percursos pedestres resulta de uma estimativa subjectiva e é estabelecido tendo por base um conjunto de factores, que podem ser divididos em 3 grandes grupos: Estruturais, conjunturais e pessoais.

Actividade Ambitare.com
Começando pelos factores estruturais, neste grupo temos os factores imutáveis tais como: Distância, orografia, altitude, tipo de piso, etc.
Depois existem factores variáveis (conjunturais) que podem alterar o nível de dificuldade, tais como: Estado do tempo (temperatura, humidade do ar e precipitação), hora do dia, disponibilidade de água, acesso a meios de socorro, etc.
Mesmo assim o valor apresentado é meramente indicativo e pode variar de pessoa para pessoa, pois existem factores individuais que influenciam no rendimento e consequentemente na dificuldade do percurso, tais como: Idade, capacidade física, estado anímico, experiência na prática de actividades de campo, peso, ritmo de caminhada, roupa e calçado utilizado, peso e volume transportados, etc.
Assim, considerando o atrás exposto, foram estabelecidos 5 níveis de dificuldade para percursos pedestres, sendo que: Cada pessoa deve estar plenamente consciente das suas capacidades e limitações e caso considere que não se encontra em boa condição física e anímica, deve-se abster de efectuar o percurso, sob pena de se colocar em risco, a si e ao grupo que integra.

Níveis de Dificuldade (padrão internacional)


  • Fácil
    Qualquer pessoa que esteja de boa saúde pode participar sem problemas. Normalmente são distâncias curtas, realizados com bom tempo, têm declives suaves, bom piso, e o ritmo de caminhada é lento. Têm duração inferior a 3 horas com pelo menos 2 paragens de 10 minutos para comer/beber e descansar. Acessíveis a principiantes e crianças.
    Exemplos: Visitas a parques urbanos ou museus.
  • Moderado
    Um pouco mais difíceis que o anterior (fácil), e embora não requeira muito boa forma física, é necessário estar bem de saúde e estar habituado a caminhar, com distâncias até os 10/12 km, com alguns declives pouco acentuados e uma duração de 4/5 horas com pelo menos 1 paragem para comer/beber e descansar.
    Exemplos: Percursos por caminhos florestais em Parques Naturais, Percursos urbanos em cidades menos planas (como Lisboa), etc.
  • Moderado / Difícil
    Requer alguma preparação física dos participantes, a principal diferença em relação ao anterior (moderado) é fundamentalmente o tipo de piso (mais irregular) e a existência de mais troços declivosos. Percursos considerados de nível médio se forem feitos em condições climatéricas desfavoráveis, de noite ou numa altitude mais elevada devem ser classificados neste nível. A disponibilidade de material técnico como vestuário e calçado adequado e o uso de bastões de caminhada podem facilitar a tarefa.
    Exemplos: Percursos no topo de arribas, Percursos em serras mais elevadas (Gerês, Estrela ou Madeira p.e.)
  • Difícil
    Recomendável apenas a quem esteja em boa forma física e que tenha experiência em actividades de campo, normalmente desenvolvem-se em terrenos irregulares e com declives muito acentuados e em grande número, igualmente para percursos realizados em condições climatéricas desfavoráveis (temperaturas fora dos níveis de conforto, humidade do ar muito baixa, chuva forte e persistente ou neve), distâncias superiores a 30 km, ou mais de 20 km/dia durante vários dias. É essencial o uso de material técnico, nomeadamente vestuário e calçado adequado ao tipo de piso e ao estado do tempo esperado. Normalmente, para percursos de duração superior a 1 dia é necessário transportar uma mochila mais pesada com alimentação e água potável suficiente para o percurso, muda de roupa suplente e abrigo (tenda e saco cama).
    Exemplos: Peregrinações, travessias de Serras, etc.
  • Muito Difícil
    Apenas para quem esteja em excelente forma física e tenha muita experiência em actividades de campo, normalmente obriga ao uso de material técnico e a conhecimentos especializados nas áreas da escalada e do montanhismo. Frequentes os declives muito acentuados e a presença de obstáculos naturais de ultrapassagem tecnicamente complexa. Os percursos referidos anteriormente (nível difícil) quando realizados em condições climatéricas extremas ou em media/alta montanha.
    Devem ser cumpridas todas as normas e regras de segurança e bom senso. Pode existir risco de lesões graves ou mesmo morte.
    Exemplos: Caminhadas nas serras mais altas com neve, Caminhadas em locais semi-áridos com muito calor, etc.
Podemos então concluir que o nível de dificuldade de um percurso é estabelecido tendo por base um conjunto de factores, resultando numa classificação meramente indicativa, válida para a "média" dos praticantes, mas que tem necessariamente de ser adaptada tendo em atenção os factores variáveis e principalmente as capacidades e condicionantes pessoais, por exemplo um percurso classificado como moderado quando realizado por uma pessoa com excesso de peso, em condições ambientais desfavoráveis e a um ritmo elevado pode ser considerado difícil para essa pessoa.
A consciência das capacidades individuais e a experiência em actividades de campo é fundamental para a segurança, para além das características especificas do percurso a realizar, as capacidades e limitações dos participantes têm sempre de ser consideradas, e devem assumir um papel preponderante no planeamento e desenvolvimento da actividade. 

segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As grandes cheias de 1967 - E se fosse hoje?

Os especialistas afirmam que a probabilidade de um fenómeno semelhante ao de 1967 acontecer (período de retorno) é de uma vez a cada 500 anos, outros investigadores apontam para um período de retorno mais curto, cerca de um século. Mas independente da frequência, uma pergunta legitima subsiste, e se acontece-se novamente nos nossos dias?


Segundo o Sistema Nacional de Informação de Ambiente (SNIAmb) existem em Portugal Continental 23 "Zonas com Risco Potencial Significativo de Inundações", se  considerarmos um hipotético evento (período de retorno de 100 anos), nessas áreas especificas habitam mais de 50 mil pessoas que se encontram sujeitas ao risco de inundação.

Área potencial de inundação na área de Loures / Odivelas (Sistema Nacional de Informação de Ambiente)


Com base na experiência passada e em novos desenvolvimentos entretanto ocorridos foram identificadas zonas críticas (áreas com risco potencial significativo de inundações). A sua seleção foi efetuada a partir da análise de diversa informação, recolhida por diferentes organismos de abrangência nacional, regional e local, e armazenada numa base de dados específica alojada no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH). A informação recolhida foi obtida, fundamentalmente, a partir de estudos e relatórios e artigos sobre cheias, de projetos hidráulicos, de Planos de bacias Hidrográficas (1998-2001), de notícias sobre inundações, de dados hidrométricos (registos contínuos e marcas de cheia). Os dados recolhidos abrangem ocorrências associadas aos séculos XIX, XX e XI e de informação sobre a ocorrência de inundações e suas consequências (informação hidrológica e avaliação dos consequências de forma quantitativa ou qualitativa). Entre os critérios utilizados para seleção das zonas críticas foi a identificação de perdas de vidas humanas ou desaparecidos e do número de pessoas afetadas. As zonas críticas selecionadas, situadas em Portugal continental, foram analisadas tendo como base a descrição histórica de 651 aí registadas. A informação utilizada foi também cruzada com informação de uma outra base de dados de desastres naturais, de origem hidro-geomorfológica, visando a sua validação. Face à informação recolhida e sua análise, as zonas críticas selecionadas apresentam, em simultaneidade, as seguintes características: pelo menos uma pessoa desaparecida ou morta e no mínimo quinze pessoas afetadas (evacuados ou desalojados).

Lisboa, Rua de S. José em Outubro de 2015 (J. F. de Santo António

Se um fenómeno com a mesma amplitude acontecer actualmente, muito provavelmente a destruição será maior, infelizmente a memória é curta e embora alguns locais de risco elevado tenham sido renaturalizados e criadas infraestruturas de defesa para inundações e cheias rápidas, na maior parte dos locais onde os estragos foram mais avultados e onde ocorreram vitimas mortais, a ocupação do solo continua a ser desadequada e as pessoas que lá vivem estão em risco permanente.
A impermeabilização dos solos continuou, aquilo que eram bairros clandestinos, passaram a habitações permanentes, muitas vezes com vários pisos, continuou-se a construir junto dos cursos de água, habitação e mesmo grandes espaços industriais e comerciais, e a desviar, tapar e encanar ribeiras.
Mas nem tudo são más "noticias" se um fenómeno semelhante voltar a suceder nos próximos tempos a probabilidade de ocorrer um tão elevado número de vitimas é mais baixa, os sistemas de previsão e de alerta para fenómenos extremos evoluiu muito, agora as pessoas têm um acesso incomparavelmente melhor e mais rápido à informação e os sistemas e meios de socorro também melhoraram consideravelmente.
Em suma, se voltar a acontecer, ou melhor, quando voltar a acontecer, possivelmente os danos serão incomparavelmente mais extensos mas a perda de vidas humanas será menor.



Referência:

sábado, 25 de novembro de 2017

As cheias de Novembro de 1967

No dia 26 de Novembro de 1967, Portugal acordou com uma terrível noticia, a chuva que caíra abundantemente na noite e madrugada anterior tinha causado, na região de Lisboa, centenas de mortos.
O primeiro alerta ocorreu pelas 21:10 do dia 25 numa chamada para os Bombeiros Voluntários de Odivelas, as casas do lugar de Silvado estavam a ser invadidas pelas águas da ribeira.

Os efeitos das inundações (Revista Life)

Aquele sábado amanheceu chuvoso, uma chuva persistente que durou todo o dia, nada de anormal para um dia de Novembro, mas o pior estava para vir, ao principio da noite uma forte bátega abate-se sobre a capital e concelhos limítrofes. Entre as 19 e as 24 horas a estação meteorológica de S. Julião do Tojal (Loures) registou 111 mm (111 lt/m2), houve mesmo locais onde se registaram 170 mm, em apenas 5 horas choveu o equivalente a um quinto da precipitação média anual na região de Lisboa.

Mapa de precipitação do dia 25-11-1967 (IPMA)

Os mais de 700 mortos, embora oficialmente só tenham sido contabilizadas 462 vitimas, faz com que as cheias de Novembro de 1967, sejam consideradas a segunda maior catástrofe natural de que há noticia na região de Lisboa, logo depois do terrível terramoto de 1755.

Evolução do número de vitimas mortais entre o dia 30 de Novembro e 5 de Dezembro (Diário Popular)

Lisboa, Sintra, Loures, Cascais, Oeiras, Vila Franca de Xira, Alenquer, Arruda dos Vinhos, Almada e Barreiro foram os concelhos mais afectados, mas as consequências tiveram a mesma gravidade em todo o lado, se nos concelhos mais "ricos" os danos materiais foram mais elevados, foi porém nos concelhos limítrofes e especialmente na áreas economicamente mais desfavorecidas que os custos em vidas humanas foram mais elevados, como quase sempre eram os mais pobres que se encontravam mais vulneráveis e expostos ao perigo.

Registo das ocorrências na cidade de Lisboa na noite de 25 para 26 de Novembro de 1967 (C. M. de Lisboa)

As instituições do estado assistiram quase impotentes ao desenrolar da tragédia, ao poder politico que tinha sido incapaz de manter as pessoas a salvo, ordenando o território, impedindo a construção em áreas de risco e promovendo a habitação social em áreas seguras, pouco mais lhe restava do que gerir e controlar a informação, de modo a "cair" o melhor possível  na opinião pública.

As noticias era sujeitas à censura (A Republica)

A censura estava instituída e  em pleno funcionamento, não saía uma noticia ou um espectáculo que não fosse visado previamente, tudo o que fosse "incómodo" para o poder instituído era "cortado" ou "suavizado". Nestes dias, atendendo ao volume de informação e ao inesperado da situação os sensores tiveram muito "trabalho", e se conseguiram travar uma ou outra informação mais "sensível" mas não foi de todo possível encobrir os contornos e os efeitos da tragédia.

Noticia censurada (Diário Popular)

Ainda hoje não se sabe ao certo quantas pessoas faleceram, a determinado momento a comissão de censura ordenou aos jornalistas que parassem a "contagem" dos mortos, tendo o número oficial ficado nos 462, mas estudos posteriores avançam com um número a rondar os 700. 

Porque choveu tanto?


Os valores extremamente elevados de precipitação, explicam-se pela conjunção de dois fenómenos meteorológicos, por um lado uma depressão muito cavada que avançou de sudoeste e por outro lado uma frente fria vinda de norte, a conjugação rara dos dois sistemas resultou num volume de precipitação perfeitamente anormal, nunca registado em Portugal.

A "culpa" foi da natureza?


Será que a catástrofe se ficou a dever a uma fatalidade, um "capricho" da natureza, como o governo da altura e os principais órgãos de comunicação social fizeram crer?
Sim e não. Se de facto a causa próxima foi a precipitação anormal, agravada por factores naturais como por exemplo as bacias hidrográficas da área terem dimensões reduzidas e com tempos de resposta muito curtos o que propicia cheias rápidas, ou o pico da precipitação ter coincidido com a preia-mar, o que impediu o escoamento rápido da água para o Tejo. Por outro lado os factores humanos resultantes do mau ordenamento do território agravaram enormemente os seus efeitos nefastos.
Devido ao êxodo rural das décadas anteriores, muitos dos habitantes do campo rumaram à região de Lisboa à procura de emprego na "cintura industrial" de modo a melhorarem as suas condições de vida, mas a falta de alojamentos acabou por "empurrar" essa enorme massa de gente pobre para bairros clandestinos, erigidos normalmente em antigos terrenos agrícolas e em áreas de várzea junto dos cursos de água.

Baixa de Algés (Revista Life)

Habitações destruídas em S. João do Tojal (Diário de Lisboa)

Bairro da Ulmeira (Diário Popular)

Quintas, Castanheira do Ribatejo (Revista Flama)

Ilha das Minhocas (Século Ilustrado)

Por outro lado o crescimento das áreas urbanas foi feito sem se acautelar os efeitos das chuvas, enormes áreas foram desmatadas e impermeabilizadas, contribuindo dessa forma para o impedimento da infiltração natural da água nos solos, muitas das linha de água foram canalizadas e cobertas, normalmente com infraestruturas que não permitiam o volume de água verificado, construíram-se igualmente muitas estruturas transversais nas linhas de água, com a força da corrente aumentada com a quantidade de detritos transportados (a água arrastou tudo, desde árvores, moveis, barracas, etc) muitas dessas estruturas acabaram por colapsar contribuindo para o transbordo das linhas de água, permitindo que a mesma chega-se a lugares onde era de todo inesperada.
O "saldo" não podia ser mais trágico, para além das largas centenas de mortos, cerca de 20 mil casas ficaram inabitáveis e mais de 1100 pessoas ficaram desalojadas.

Video sobre as causas e os efeitos (Arquivos RTP)

Quintas, a aldeia "mártir"


Quintas era (e é) uma pequena aldeia a poucos quilómetros de Castanheira do Ribatejo no concelho de Vila Franca de Xira, nessa noite de 1967 a pequena povoação viu as águas do Rio Grande da Pipa subirem repentinamente mais de oito metros, submergindo quase a totalidade das casas, dos cerca de 150 habitantes da localidade mais de 100 pereceram na madrugada do dia 26, conseguindo-se salvar, quase por "milagre", os que conseguiram alcançar os telhados das casas ou qualquer outro ponto alto seguro.


Localização de Quintas (Google)

Famílias inteiras pereceram em Quintas, gente de todas as idades, cujas memórias se encontram actualmente perpetuadas em dois monumentos, um no largo da Igreja, inaugurado em 2008, onde figuram os nomes das vitimas, e outro um pouco mais abaixo, em pleno "coração" da área atingida pela catástrofe e associado a uma rua renomeada em 1996 como "Rua 26 de Novembro de 1967" em evocação de uma data que perdurará na memória dos sobreviventes e na  dos que viram partir inesperadamente os seus entes queridos.

Monumento em memória das vitimas de Quintas (J.F. Castanheira do Ribatejo)

Os efeitos das inundações de 1967 na sociedade


Antes do mais, este trágico episódio histórico ajudou a despertar consciências, muitas pessoas tomaram pela primeira vez conhecimento da miséria que viva paredes meias e que por ignorância ou por indiferença não viam, ou não queriam ver.
A "máscara" paternalista e protectora do "Estado Novo" começou a cair nessa altura, como se podia confiar num estado que dizia forte, mas que se mostrava incapaz de proteger os mais fracos dos caprichos da natureza e da ganância de alguns, esses sim "protegidos"?
Pela primeira vez o termo "ordenamento do território" passa para a ordem do dia, muitos começam a entender a importância de ordenar a localização das actividades e das funções económicas e sociais, torna-se evidente que é necessário colocar as pessoas longe do perigo.
A sociedade civil, encabeçada pelas associações de estudantes universitários substitui-se ao estado na ajuda às populações afectadas. Cerca de cinco mil estudantes foram para o terreno ajudar a resgatar mortos e feridos, limpar destroços, recolher e distribuir bens e fundos para apoiar os necessitados e a aplicar vacinas para impedir a proliferação de doenças infecto-contagiosas.

A participação dos estudantes (Diário de Lisboa)

O contacto com a realidade contribuiu para a consciencialização social e para a politização dos milhares dos voluntários.
As águas desceram, os mortos enterrados, os feridos tratados, as ruas lavadas e os que ficaram sem casa formam realojados, mas as inundações deixaram uma marca indelével por todos os que tiveram conhecimento directo ou indirecto da tragédia que de uma forma ou outra constitui-se como um ponto de viragem na nossa história recente, e contribuiu para mudar Portugal.

E se fosse hoje?


Os especialistas afirmam que a probabilidade de um fenómeno dessa magnitude acontecer (período de retorno) é de uma vez a cada 500 anos, outros porém apontam para um período de retorno mais curto, cerca de um século. Mas independente da frequência, uma pergunta legitima subsiste, e se acontece-se novamente nos nosso dias?

Área potencial de inundação na área de Loures / Odivelas (Sistema Nacional de Informação de Ambiente)

Se um fenómeno com a mesma amplitude acontecer actualmente, muito provavelmente a destruição será maior, infelizmente a memória é curta e embora alguns locais de risco elevado tenham sido renaturalizados e criadas infraestruturas de defesa para inundações e cheias rápidas, na maior parte dos locais onde os estragos foram mais avultados e onde ocorreram vitimas mortais, a ocupação do solo continua a ser desadequada e as pessoas que lá vivem estão em risco permanente.
A impermeabilização dos solos continuou, aquilo que eram bairros clandestinos, passaram a habitações permanentes, muitas vezes com vários pisos, continuou-se a construir junto dos cursos de água, habitação e mesmo grandes espaços industriais e comerciais, e a desviar, tapar e encanar ribeiras.
Mas nem tudo são más "noticias" se um fenómeno semelhante voltar a suceder nos próximos tempos a probabilidade de ocorrer um tão elevado número de vitimas é mais baixa, os sistemas de previsão e de alerta para fenómenos extremos evoluiu muito, agora as pessoas têm um acesso incomparavelmente melhor e mais rápido à informação e os sistemas e meios de socorro também melhoraram consideravelmente.
Em suma, se voltar a acontecer, ou melhor, quando voltar a acontecer, possivelmente os danos serão incomparavelmente mais extensos mas a perda de vidas humanas será menor.
Relembrar estas tragédias não pode ser apenas um exercício jornalístico ou uma evocação da memória das vitimas, tem de servir igualmente para recordar a todos a importância do ordenamento do território e para a consciencialização dos riscos, só assim as mortes dessa já longínqua noite de Novembro não terão sido em vão.

Por: Luís Baltazar