Penedo de Lexim (foto do autor) |
Localizado próximo da Aldeia de Lexim e da Aldeia da Mata Pequena, o Penedo de Lexim destaca-se na paisagem, não só por ser uma colina que sobressai em relação à envolvente pela sua altitude, mas também pela distinção da forma e da cor.
Geomonumento, classificado como Imóvel de Interesse Público em 1982 pelo Decreto n. 28/82 de 26 de Fevereiro, o Penedo de Lexim é uma elevação natural que resulta de uma antiga chaminé vulcânica (com 55±18 milhões de anos) com origem no Complexo Vulcânico de Lisboa, o magma remanescente na chaminé arrefeceu originando minerais bem desenvolvidos (basalto holocristalino) e arranjados em forma de colunas prismáticas.
Detalhe geológico - Disjunção prismática (foto do autor) |
É um tipo de ocorrência geológica que acontece durante o processo de arrefecimento do magma ou da lava. Com o arrefecimento, o material rochoso resultante da solidificação contrai-se gerando tensões internas que se traduzem em forças que geram planos de fractura, denominados juntas ou diaclases, perpendiculares à superfície principal de arrefecimento. Essas fracturas estendem-se pela massa rochosa adentro, resultando na formação de colunas paralelas umas as outras e perpendiculares à superfície do fluxo, sendo estas colunas geralmente poligonais (frequentemente com seis lados).
O Penedo do Lexim é constituído por uma rocha basáltica, alcalina, com textura porfirítica, onde se observam fenocristais de olivina e de piroxena envolvidos por uma matriz afanítica. Estas rochas intruem calcários e margas do Albiano-Cenomaniano médio.
O Penedo do Lexim é constituído por uma rocha basáltica, alcalina, com textura porfirítica, onde se observam fenocristais de olivina e de piroxena envolvidos por uma matriz afanítica. Estas rochas intruem calcários e margas do Albiano-Cenomaniano médio.
Corte da antiga pedreira (foto do autor) |
A morfologia da elevação, nomeadamente a inclinação das vertentes e a sua posição sobranceira em relação ao espaço envolvente explica desde logo a escolha deste local para a fixação humana, estes aspectos conferem-lhe uma grande defensibilidade, registando-se ocupações desde o IV milénio a.C. até à ocupação romana, divididas em 4 fases distintas:
- Neolítico final/Calcolítico inicial (transição do IV-III milénio)
- Calcolítico pleno (1.ª metade do III milénio a.C.)
- Bronze final (finais do II milénio)
- Ocupação romana
A identificação deste antigo povoado remonta ao século XIX, sendo citado por Estácio da Veiga (1879) e objecto de recolhas por Possidónio da Silva, mas foi apenas na década de 70 do séc. XX que se realizaram as primeiras campanhas de escavação, despoletadas pela ação de pedreiras, na sequência das quais foi efetuada uma ação de emergência dirigida por José Morais Arnaud, Vasco Salgado de Oliveira e Vítor Oliveira Jorge (1971). Após várias incursões clandestinas e de contínuos trabalhos de destruição pela pedreira, foi realizada uma campanha de escavação em 1975, o retomar do estudo do Penedo do Lexim data de 1998, quando se iniciou a nova fase de escavações (1998, 1999, 2000, 2002, 2003), da responsabilidade de Ana Catarina Sousa.
O Penedo de Lexim (desenho de Estácio da Veiga) |
- A base, área mais ou menos aplanada a partir da qual se eleva a antiga chaminé vulcânica, onde nas imediações do penedo foram identificadas algumas estruturas que poderiam ter configurado uma muralha defensiva.
- As vertentes, na vertente do lado nascente, existiram pequenas cavidades naturais onde se recolheram diversos vestígios arqueológicos. Apesar da pedreira ter destruído a maior parte das cavidades, conservou-se ainda um abrigo no qual foram detectados indícios de ter sido utilizado como abrigo.
- O topo, plataforma de reduzidas dimensões (< 100 m2), situada no centro do povoado, rodeada por afloramentos basálticos que constituem uma verdadeira fortificação natural reforçada por estruturas antrópicas. Nesta área foram identificados vestígios de todas os períodos de ocupação.
A informação disponível, nomeadamente os registos de vida doméstica, materializados nas várias "lixeiras" encontradas, num lajeado e em vestígios de estruturas habitacionais, apontam para que o ponto máximo do povoado, quer na extensão de área ocupada, quer em número de habitantes , tenha ocorrido no Calcolítico.
No decorrer dos trabalhos arqueológicos desenvolvidos no Penedo de Lexim foram identificados alguns materiais que indiciam a prática de actividades metalúrgicas, nomeadamente pingos de fundição, refractários e outros materiais similares. Os pingos encontrados aponta para o trabalho do cobre, podendo decorrer da redução inicial desse minério ou da liga metálica refinada. A análise dos artefactos metálicos encontrados no Penedo de Lexim são constituídos fundamentalmente por cobre, apresentando ainda vestígios de Arsénio e Ferro e são essencialmente instrumentos de trabalho produzidos maioritariamente no Calcolítico pleno (1.ª metade do III milénio a.C.), período onde se deu a generalização da metalurgia do cobre em Portugal.
Durante a laboração da pedreira apareceram diversos objectos metálicos, levando José Morais Arnaud a formular a hipótese da existência de um "esconderijo de fundidor". “Durante a exploração da pedreira de basalto instalada na vertente norte do Penedo do Lexim, os operários encontraram numa fenda rochosa algumas peças de bronze, atribuíveis à Idade do Bronze «Atlântico», que julgamos terem feito parte de um «esconderijo de fundidor». As únicas peças que pudemos observar, por enquanto, são dois machados com duas aselhas laterais, um depositado na Câmara Municipal de Mafra, outro entregue pelo encarregado da pedreira ao Sr. António Pedroso Ferreira, que o depositou no Museu Nacional de Arqueologia e Etnologia. Estas duas peças são perfeitamente idênticas, parecendo ter sido feitas com o mesmo molde. Conservam ainda as rebarbas de fundição e o gume bem afiado, não apresentando vestígios de utilização".
Machado de alvado do Penedo de Lexim (fonte: Ana Catarina Sousa et al.) |
Estes e outros achados com o mesmo cariz, terão provocado ao longo dos tempos mais recentes "violações" por parte de "caçadores de tesouros" que munidos de detectores de metais, de pás e picaretas, revolvem e destroem o sitio arqueológico na esperança de encontrar algo de valor.
Segundo informação recolhida recentemente a cavidade onde foram encontrados os machados já foi destruída (pela laboração da pedreira) e as outras cavidades existentes, embora tenham características morfológicas semelhantes não apresentam qualquer indicio de terem sido utilizadas como "esconderijo" ou "depósito".
Abrigo sob a rocha na área destruída pela pedreira (fonte: Ana Catarina Sousa et al.) |
O povoado do Penedo de Lexim, a par de outros identificados na "Plataforma de São João das Lampas", tais como Olelas, Cortegaça ou Alto do Montijo, edificados em pontos altos, permitiriam o domínio visual de boa parte do território até à Serra de Sintra, podendo estar relacionados com as necrópoles encontradas mais a Sul, tais como os diversos Tholos presentes na Serra e na sua envolvente, sendo ainda abundantes os topónimos relacionados com a existência de "monumentos" funerários tais como "Anta" ou "Cova".
Literatura antiga aponta ainda para a existência nas imediações do Penedo de Lexim de um Trilithon, estrutura que no entanto nunca chegou a ser identificada no terreno, a existência dessa estrutura representaria uma singularidade na região, actualmente só se conhece nesta área um recinto megalítico, os "Menires da Barreira", próximo do Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas.
Assim, seja pelas razões apontadas anteriormente, ou apenas para desfrutar da tranquilidade e das "vistas", o Penedo de Lexim é um dos locais nas imediações de Lisboa que indiscutivelmente merece uma visita.
Por: Luís Baltazar
Referências:
- Atlas do Parque Natural de Sintra-Cascais
- Blogue MafraA
- Blogue Memórias das Pedras Talhas
- Inventário de geossítios de relevância nacional
- GeoHistória LX
- Metalurgia antiga do Penedo do Lexim
- O Neolítico Final e o Calcolítico na área da Ribeira de Cheleiros
- O Neolítico final no Penedo do Lexim (Mafra): questões em aberto
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