segunda-feira, 27 de novembro de 2017

As grandes cheias de 1967 - E se fosse hoje?

Os especialistas afirmam que a probabilidade de um fenómeno semelhante ao de 1967 acontecer (período de retorno) é de uma vez a cada 500 anos, outros investigadores apontam para um período de retorno mais curto, cerca de um século. Mas independente da frequência, uma pergunta legitima subsiste, e se acontece-se novamente nos nossos dias?


Segundo o Sistema Nacional de Informação de Ambiente (SNIAmb) existem em Portugal Continental 23 "Zonas com Risco Potencial Significativo de Inundações", se  considerarmos um hipotético evento (período de retorno de 100 anos), nessas áreas especificas habitam mais de 50 mil pessoas que se encontram sujeitas ao risco de inundação.

Área potencial de inundação na área de Loures / Odivelas (Sistema Nacional de Informação de Ambiente)


Com base na experiência passada e em novos desenvolvimentos entretanto ocorridos foram identificadas zonas críticas (áreas com risco potencial significativo de inundações). A sua seleção foi efetuada a partir da análise de diversa informação, recolhida por diferentes organismos de abrangência nacional, regional e local, e armazenada numa base de dados específica alojada no Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos (SNIRH). A informação recolhida foi obtida, fundamentalmente, a partir de estudos e relatórios e artigos sobre cheias, de projetos hidráulicos, de Planos de bacias Hidrográficas (1998-2001), de notícias sobre inundações, de dados hidrométricos (registos contínuos e marcas de cheia). Os dados recolhidos abrangem ocorrências associadas aos séculos XIX, XX e XI e de informação sobre a ocorrência de inundações e suas consequências (informação hidrológica e avaliação dos consequências de forma quantitativa ou qualitativa). Entre os critérios utilizados para seleção das zonas críticas foi a identificação de perdas de vidas humanas ou desaparecidos e do número de pessoas afetadas. As zonas críticas selecionadas, situadas em Portugal continental, foram analisadas tendo como base a descrição histórica de 651 aí registadas. A informação utilizada foi também cruzada com informação de uma outra base de dados de desastres naturais, de origem hidro-geomorfológica, visando a sua validação. Face à informação recolhida e sua análise, as zonas críticas selecionadas apresentam, em simultaneidade, as seguintes características: pelo menos uma pessoa desaparecida ou morta e no mínimo quinze pessoas afetadas (evacuados ou desalojados).

Lisboa, Rua de S. José em Outubro de 2015 (J. F. de Santo António

Se um fenómeno com a mesma amplitude acontecer actualmente, muito provavelmente a destruição será maior, infelizmente a memória é curta e embora alguns locais de risco elevado tenham sido renaturalizados e criadas infraestruturas de defesa para inundações e cheias rápidas, na maior parte dos locais onde os estragos foram mais avultados e onde ocorreram vitimas mortais, a ocupação do solo continua a ser desadequada e as pessoas que lá vivem estão em risco permanente.
A impermeabilização dos solos continuou, aquilo que eram bairros clandestinos, passaram a habitações permanentes, muitas vezes com vários pisos, continuou-se a construir junto dos cursos de água, habitação e mesmo grandes espaços industriais e comerciais, e a desviar, tapar e encanar ribeiras.
Mas nem tudo são más "noticias" se um fenómeno semelhante voltar a suceder nos próximos tempos a probabilidade de ocorrer um tão elevado número de vitimas é mais baixa, os sistemas de previsão e de alerta para fenómenos extremos evoluiu muito, agora as pessoas têm um acesso incomparavelmente melhor e mais rápido à informação e os sistemas e meios de socorro também melhoraram consideravelmente.
Em suma, se voltar a acontecer, ou melhor, quando voltar a acontecer, possivelmente os danos serão incomparavelmente mais extensos mas a perda de vidas humanas será menor.



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